NOVO!!! As rações extrusadas e os lipocrômicos amarelos. Dá certo?
(Publicado na Revista da SOC 2016 – Campeã do Concurso de Revistas)
Por Paulo César Löf – Juiz FOB/OBJO
Extrusada X Luteína = Aliadas ou inimigas?
Nesse ano ornitológico em que completo 15 anos como Juiz de Canários de Cor do sistema FOB/OBJO, tive a oportunidade de ser convidado para julgar alguns dos mais importantes concursos do Brasil. E um fato me chamou demais a atenção: vários canários de fundo amarelo apresentaram graves deficiência no seu item variedade, ou seja, qualidade (tonalidade) e quantidade do lipocromo.
Conversando com esses criadores, a justificativa de todos foi a substituição da mistura de sementes pelas rações extrusadas, apresentadas em formato de pequenas bolas, grânulos. Então, nossa proposta é refletir sobre essa prática, tentando encontrar soluções.
Primeiro, é necessário que se esclareça uma questão importante: as rações extrusadas são na verdade misturas normalmente compostas de uma base proteica (à base de soja ou farinhas de carne, etc) com uma base de carboidratos (milho, arroz, trigo, etc), complementadas com vitaminas, minerais e aminoácidos, além dos aditivos necessários para a sua conservação, como antioxidantes, antifúngicos e outros melhoradores, como adsorventes de micotoxinas, probióticos, entre outros. São rações, como as farinhadas, mas a sua apresentação, resultado do seu processo de fabricação, é que a diferencia das farinhadas tradicionais.
A mistura de grãos usada tradicionalmente, logicamente com muitas variações na sua composição, sempre foi à base de sementes como alpiste, colza (canola), nabão, linhaça, níger, aveia, perila, senha, etc. Esses grãos representam uma excelente fonte de carboidratos, proteínas de alta digestibilidade, de carboidratos, e aí vem o que nos importa agora, de corantes naturais amarelos (luteína, zeaxantina e carotenos) e de óleos de alta qualidade, com altos níveis de ômegas 3, 6, 7, 9, ácido linoleico e outros elementos fundamentais para a fixação, disponibilidade e expressão do lipocromo amarelo.
Mesmo considerando que a adição de luteína ou outros corantes nas farinhadas já seja de uso conhecido, constante, devemos considerar que uma parte considerável da dieta dos pássaros era composta pelos grãos. Dessa forma, de um instante para o outro, as dietas dos canários passaram de duas fontes de óleos e corantes para uma só fonte, representada pela farinhada. Se for considerado que vários pássaros têm suas preferências alimentares variadas, alguns canários acabam comendo bem a farinhada com a luteína, mas alguns acabam substituindo parte considerável da dieta pelos grãos extrusados, ou seja, comem poucos corantes e óleos, portanto, colorem menos.
Percebi, em muitas observações, que alguns canários substituem quase todo o seu consumo das farinhadas pelas extrusadas, muito motivados pelos aditivos palatabilizantes nelas contidos. Assim, aquela satisfação do criador porque ”os canários comem bem” acabou sendo substituída por uma frustração tardia pela má coloração do seu plantel, pois dificilmente notam-se os efeitos antes do fim da muda.
E por que os canários com fator vermelho são menos afetados? A explicação também é simples: no caso dos amarelos, os pigmentos e óleos presentes nos grão são benéficos e complementares para a formação do seu lipocromo, enquanto nos vermelhos, isso até os beneficia pela menor presença de pigmentos amarelos competindo por espaço na sua coloração e em boa parte porque o pigmento responsável pela cor vermelha (cantaxantina) não é absorvida da mesma forma do pigmento amarelos, não dependendo de gordura para a sua deposição e disponibilidade. Apenas para não fomentar teorias sem fundamentação técnica, a alegação de que elementos presentes nas rações extrusadas, como adsorventes e outros, afetariam a absorção da luteína, é bom que se esclareça que estes não possuem nenhuma ação nesse sentido, não havendo ligações físico-quimicas com os corantes, comprovado pelo fato de que esses mesmos ingredientes estão presentes nas farinhadas que se usa e colore normalmente há anos e fazem parte da dieta normal.
Pois bem, qual seria então a melhor maneira de contornar esse problema? Acredito que seja mais fácil usar rações extrusadas com algum nível de luteína de boa qualidade, com máximo grau de pureza, usando também na dieta óleos vegetais de excelente qualidade e com nutrientes necessários, como óleo de girassol, óleo de linhaça, de arroz, de oliva, entre outros, mantendo a adição de verduras. Também a prática de retirar os grãos extrusados em certas partes do dia parece ser eficiente. O desafio, portanto, vai ser fazer com que o plantel se alimente da maneira mais homogênea possível.