Colorindo Canários Amarelos com Luteína / Coloreando Canários Amarillos con Luteína

Colorindo Canários Amarelos com Luteína / Coloreando Canários Amarillos con Luteína

 

Por Paulo César Löf – Juiz FOB/OBJO

 

A canaricultura vem avançando dia a dia, e os pássaros levados a concurso são cada vez melhores, mais selecionados, e, na maioria das vezes, os vencedores se distanciam muito pouco dos demais, especialmente na linha clara, onde os detalhes fazem a diferença.

Tenho visto muitos artigos sobre a coloração de canários vermelhos e creio que esse assunto já está bem consolidado e as orientações gerais são de conhecimento e acesso a todos os criadores interessados. Por outro lado, tem me chamado a atenção não haver na mesma quantidade orientação para a coloração correta dos canários amarelos (sem fator vermelho), considerando-se que hoje os plantéis de concurso estão sujeitos a manejo e alimentação específicos para a melhor expressão de seus campeões.

 

A cor dos canários amarelos

 

Na coloração dos canários amarelos de concurso, busca-se a máxima expressão do lipocromo, através de sua qualidade-pureza e quantidade.
A pureza seria a tonalidade do lipocromo, que nos amarelos (tanto marfins quanto clássicos) seria o tom amarelo limão, afetado pelo fator ótico azul. Portanto, será penalizado tanto o amarelo dourado quanto o amarelo apagado, em clássicos e marfins, e até mesmo o lipocromo que se confunda com o amarelo clássico no caso dos marfins.
A quantidade está relacionada com a expressão do lipocromo no pássaro. Quanto mais lipocromo houver na plumagem, melhor. Isso se reflete na distribuição do mesmo. Nos intensos, haverá a distribuição uniforme por toda a extensão das penas; nos nevados, haverá lipocromo até o início da névoa e nos mosaicos, intensidade nas zonas de eleição. Por isso, pode haver canários de péssima qualidade mas grande quantidade de lipocromo, e vice-versa.

 

Os alimentos e as diferentes espécies de corantes

 

A alimentação dos canários, além dos ingredientes alimentares como as proteínas, carboidratos, gorduras, possui pigmentos de origem vegetal – os carotenoides, divididos em dois grupos: os carotenos e as xantofilas. O caroteno só após ser quebrado por uma enzima e transformado em retinol (vit. A) é reabsorvido, passa pelo fígado e se espalha pelo sistema circulatório, não concorrendo, portanto, para a pigmentação do canário.

Para nossos pássaros, de maneira simplificada, as xantofilas são os mais importantes pigmentos, e, entre essas, a luteína e a zeaxantina são as que formam principalmente as cores desejadas em nossos amarelos.

A zeaxantina e a luteína, após serem ingeridas nos alimentos fornecidos aos canários, passam facilmente pelas paredes intestinais e se espalham pela corrente sanguínea, sendo que o seu principal veículo são os lipídios ou gorduras, e por isso chamamos comumente de LIPOCROMOS as cores desses pássaros.
Parte da luteína e da zeaxantina passa diretamente ao bulbo da pluma em formação, para ser disponibilizada na plumagem, e parte acumula-se no tecido adiposo do pássaro. Após ser transformadas, aderem à pele, onde se formam as papilas das penas, e assim se fundem às plumas em formação, tornando o canário amarelo.
Compreendido esse mecanismo de fixação do corante amarelo através dessa simplificada explicação, é importante que seja compreendido também como se fará com que os pássaros sejam coloridos da forma correta, através dos alimentos que lhe forem fornecidos.

Tradicionalmente, os canários são alimentados com uma mistura de sementes (composta de alpiste, aveia descascada, colza ou canola, nabão, linhaça, perila, etc.), de uma farinhada feita de milho branco ou amarelo, arroz, farelo de soja, ovos, frutas e verduras.
Pois bem. Se considerarmos que os principais pigmentos são a zeaxantina e a luteína, também já devemos considerar que, atualmente, já se percebeu que a tonalidade desejada aos nossos amarelos provém da utilização de alimentos com alto teor de luteína e baixo teor de zeaxantina.
Como orientação e panorama geral com base no uso mais comum de verduras no Brasil, é importante demonstrar os seus níveis aproximados, conforme a tabela abaixo:

 

Alimento Luteína por kg Zeaxantina por kg
couve folhas 0,39 g 0,22 g
Espinafre 0,10 g 0,003 g
Brócolis 0,02 g 0,01 g
Milho in natura 5,00 g 7, 9 a 22,9 g
Milho cozido 2,79 a 5,47 g 11,0 g
Suco de laranja 0,004 g 0,008 g
Ovos 0,02 g Muito variável

 

Assim, deve-se cuidar para que os canários recebam o alimento que mais ressalte as suas qualidades cromáticas e menos interfira no resultado tido como desejável pelo criador, ou seja, alimentos ricos em luteína e pobres em zeaxantina.

 

As observações na prática

 

Atualmente, a luteína tem sido largamente utilizada como fonte de pigmentos amarelos, e hoje, pode-se afirmar que os canários amarelos de concurso de maior expressão são geralmente pigmentados com base nesse produto.

A zeaxantina, por seu turno, tem sido ligada às tonalidades douradas ou pelo menos mais carregadas do lipocromo, com menos fatos ótico azul, e por isso, alimentos como o milho amarelo tem sido cada vez mais retirados da dieta dos canários sem fator, mesmo os marfins, que até há pouco julgava-se beneficiados pelo lipocromo de tonalidade excessiva (ou passada, como dizemos).
Como no caso do uso da cantaxantina na pigmentação dos canários vermelhos, originalmente a pigmentação artificial de canários amarelos sofreu uma resistência dos que acreditavam ser essa maléfica em relação à tonalidade dos pássaros, porém, com seu uso e com a seleção em concursos dos pássaros para a tonalidade ideal (o amarelo limão), houve a consolidação da sua utilização. Ambos os corantes vermelho e amarelo foram produzidos e testados em sua origem para a alimentação de galinhas poedeiras e de frangos, visando a pigmentação da pele dos frangos e das gemas dos ovos, já que os alimentos fornecidos in natura não conseguiam fazer com que houvesse coloração semelhante àquela obtida em condições de vida natural.
Por outro lado, mesmo que difundido seu uso entre os criadores mais experientes e atualmente com resultados comprovados, ainda há muitas dúvidas acerca da forma de utilização e das dosagens empregadas.

Para tentar desvendar a real influência das dosagens de luteína, foi conduzido um experimento em pássaros amarelos intensos e nevados, filhotes, normais e marfins, selecionados, de padrão de concurso, alimentados durante 100 dias com farinhada completamente isenta de pigmentos amarelos, à qual foi adicionada luteína na dosagem de 10 g/kg de farinhada pronta.
Esses pássaros não receberam outros alimentos ou grãos nesse período.

Outros lotes de adultos selecionados no ano anterior pela sua qualidade de lipocromo, todos de lipocromo aparentemente semelhante antes da muda, foram manejados com a mesma farinhada, a mesma dosagem de luteína, e receberam mistura de grãos tradicional (alpiste, canola, nabão, níger e linhaça). Nenhum dos lotes recebeu verduras ou frutas de qualquer tipo.
Os resultados foram surpreendentes!

Em ambos os lotes, a imensa maioria dos pássaros apresentou lipocromo amarelo vivo e brilhante, de padrão de concurso. Porém, surgiram alguns pássaros de tonalidade abaixo do desejado (chamados de apagados) e acima (chamados de passados), mesmo nos filhotes, onde, lembre-se, a única fonte de alimentação era a farinhada pigmentada com luteína, o que exclui a possibilidade de preferência na dieta. Ou comia, ou comia.

Na imagem abaixo, essa gradação é bem evidente: da esquerda para direita, temos uma fêmea amarela nevada com coloração deficiente, uma com coloração ideal e outra com coloração carregada. Não se analisa a categoria (nevação), mas sim a variedade (cor de fundo amarela)

Uma das marcas de luteína resultou em canários fortemente dourados no primeiro instante, revertida parcialmente em alguns após o amadurecimento completo da plumagem, enquanto que com o uso de outra as plumas já nasceram na tonalidade final e desejada de amarelo. Em outras palavras, em uma as penas nasciam douradas e depois suavizavam em parte, ficando amarelas, enquanto que em outra, com melhores resultados, as penas já nasceram na tonalidade desejada e com superior uniformidade.

Em ambos os casos, houve a arranquia de plumas quebradas ou mal coloridas das asas e cauda (rêmiges e tetrizes), pois no ninho não foi fornecida a luteína. Também nesses dois casos, houve grande variabilidade de pigmentação das penas longas da cauda e asas. Os pássaros que apresentavam as caudas e asas mais bem coloridas provinham de linhagens selecionadas com base também nesse critério. A alimentação com luteína faz com que as plumas longas logicamente sejam mais pigmentadas do que seriam sem o seu fornecimento, como se dá com as demais penas do pássaro, mas não resulta em pássaros com a pigmentação ideal se não possuírem essa condição.

Esses dois lotes também foram comparados com outro lote de canários que receberam, além de luteína, verduras diariamente (couve, principalmente), e as impressões advindas dessas comparações são as seguintes:

 

  1.  Nem todos os pássaros são capazes de absorver e sintetizar da mesma maneira a luteína fornecida através de suplementos, e, por isso, alguns pássaros, mesmo que recebam a alimentação de maneira acertada poderão apresentar lipocromo deficiente em tonalidade ou quantidade.
  2. As verduras, diante da presença de mais ou menos zeaxantina e luteína, tornam mais difícil a seleção dos lipocromos, pois aparentemente mascaram com a quantidade de lipocromo a sua falta de qualidade e, principalmente, não se consegue manter uma alimentação com níveis constantes e exatos de luteína;
  3. As fontes de luteína usadas como aditivo são altamente variáveis na sua concentração e qualidade, e aparentemente, os veículos utilizados para a sua diluição podem conter também altos níveis de zeaxantina;
  4. A seleção do plantel só poderá ser feita após a padronização do uso desses aditivos e da alimentação dos pássaros, pois qualquer variabilidade poderá gerar resultados indesejados.
  5. A pigmentação ideal das asas e caudas dos pássaros está mais ligada à seleção das linhagens e indivíduos do que a alimentação.
  6. A quantidade da luteína a ser adicionada varia de acordo com a dieta fornecida aos pássaros e a qualidade de sua fonte. Foram usadas dosagens de 3 a 10 g/kg de farinhada seca.

 

Uma das vantagens do uso da luteína foi possibilitar a correta pigmentação dos adultos após a cria, fazendo que possam ser reselecionados conforme a sua qualidade de lipocromo e também que possam ser vendidos adequadamente coloridos. Nos filhotes de ninho, a luteína adicionada à farinhada dos pais reduz a necessidade de arranquia de plumas mal pigmentadas, traduzindo em bem estar dos pássaros e adequada seleção dos exemplares que não forem destinados aos concursos.

Dessa forma, a luteína resulta em uma forma prática e econômica de pigmentação de canários amarelos, pois não exige do criador o gasto diário e a estressante busca de verduras para adicionar na alimentação de seus pássaros, ressaltando-se também que possibilita um esquema fácil de manejo e alimentação, na qual os níveis de luteína serão constantes e não sujeitos a disponibilidades e sazonalidades.